sábado, 23 de janeiro de 2010

Sons Inaudíveis.

Atrevo-me a lançar
o que tenho ao ar.

Fartei-me de passos cuidadosos,
estradas demasiado compridas
com artérias entupidas de
gentes e sonos sinuosos.

Queria eu poder sair...

Um sonho, uma vontade será
ela sempre fugir.

E assim como um concerto acaba,
acabo eu com uma palavra final
que direi no momento oportuno,
no momento que perduro
numa eternidade de falácias
com que co-existo.

Espera para ouvir
o que tenho para dizer,
será breve
tão breve que talvez nem consigas
apanhar os curtos sons
que digitarei a ti.

Entre o que digo
e o que faço
mantenho coerências,
que manténs tu
entre falar e fazer diferentes?
Será que pensas que vives
em diferentes presentes?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Brincadeiras de Adultos

Perguntas, questões.
Serás feita de mistérios?
ou apenas cobres o que escondes
atrás de um pano sedoso
e cremoso de omissão?

Que jogo é este o que jogas?
Vá, incita-me.
Passa algo de vermelho pelos
meus lúcidos olhos
que aguardam um passo em falso.

Será que passarás de caçador a presa?
Ou ficarei eu cego pelo simples
pano com que me cegas?
Até que a espada da verdade entre
suave e docilmente em mim?

Sou um jogo não sou?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O quarto

Quando cheguei,
já não haviam janelas.

Atirei minha mão contra a porta,
rodei a maçaneta e
Entrei cuidadosamente,
pelo ranger da madeira no chão.

Nada.

Não vejo nada.
O sofá que devia estar já não está
O quadro que devia ser já não é
a secretária que devia permanecer
imóvel, intacta a minha espera
desapareceu em mil pós
de mil criaturas que a roubaram.
Talvez térmitas.

Subi ao meu quarto,
ao nosso quarto.

Nada.

Nem cama, nem cabides.
Nem espelhos, nem gavetas
onde arrumava as minhas emoções
como meias, cuidadosamente enroladas.

Nada.


Suspiro. Para onde olhar?
Se é o nada que há?
até as paredes que ainda existem
ficaram sem cor.

Agora deito-me no chão
marcado pelo que não há.

Tudo o que tenho,
é porque não tenho nada.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pergunto-me

Porquê?...
Porque tens esse lado que me fustiga?
Eu Fujo, e fujo,
por partes desconhecidas
partes para sempre perdidas
do que eu, desejei ser.
Mas a tormenta do teu olhar
que revolta tão singulares
almas que carrego como fardos
carregados de negro em mim
é suficiente para me abalar.

Tempestades? São água e chuva,
que derramam gotas de amar
em mim.
Derramam o sonho desfeito que sou eu.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Defesas

Sobre um lugar,
distante ou pequeno;
perto ou grandioso;
Encontro-me.

O querer ou não,
deixa de importar
assim que existem momentos
em que sinto que faleci.

Que faço?
Reconstruo muralhas mentais,
os buracos tão fatais que conheço.
Sobre o que construo isso?
Boa pergunta.

As vezes seria tão fácil saber
o que fazer, para onde olhar
se na verdade soubéssemos
que solo estamos a pisar.

Fortaleza

Se é a solidão que te toma,
toma esta minha espada.
Que ela te conforte
e te proteja daquilo que eu não
consigo alcançar.

Se é de alguém que necessitas
então toma lugar ao meu lado.
Sem vergonhas nem tolices,
deixo que te encostes
sobre este corpo jazido.

Sou homem mas túmulo
para o que me pedires,
Um túmulo que ouve:
não deixa com que o ar que respiras
dentro dele
seja desperdiçado.

Um túmulo que te deu a espada
que ficara sempre do teu lado.

Buscas infelizes

Que bates e empurras com tanta força
contra a desesperada e cansada mente
que tanto te protege do resto que
crias, ao olhar vidradamente
para o que deixaste?

Porque insistes?
Tudo se queima por tanta
força feita,
atritos que ardem
em vontades que se desfazem
em precariedades de sentir.

Tentativas e erros existem
para aprenderes,
mas tentares e errares tanto
sobre algo que já devias ter aprendido
fatiga-me.

Porque é que procuras
acertar no que já falhaste?
Lamento mas a minha capa
não carrega quem a deseja cortar.

Presença Fingida

Inspiro por breves momentos.
Brevíssimos momentos feitos
do mesmo ar que respiro,
onde solto tudo que há para soltar.
Digo tudo o que a dizer e a divagar
contra uma parede de ninguém que me ignora.

Serão tão débeis minhas poucas palavras,
cansadas de querem se fazer ouvir,
por um breve suspiro onde ele possa
florir um pouco mais na mente
de quem finge estar distante
mas esta presente.

Serei assim tão fraco que
um mundo que tenho em mim
seja tão facilmente ignorado pelos demais?

Toca-me, sente-me. Estou Aqui.
Triste e só aqui. Como um parvo a chuva,
como um idiota sem ideias
um pássaro sem asas
um guerreiro sem espada
um homem sem alma!

Onde paro eu
se ninguém me vê,
nem eu me vejo
neste nevoeiro de corpos
que me ultrapassam
Na corrente de tudo o que é
este momento em que inspiro.

Estarei a sonhar
ou a delirar um pouco mais
com os meus sonhos acordados?

Acordem-me lentamente
para não me espantar novamente
com o fraco fabrico que tenho,
com as peças defeituosas com
que a fabrica me fabricou.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Enquanto ele Subia

O sol subiu
assim como eu desci,
para uma cama, pronto a descansar
de todos os momentos banais
que nunca são iguais,
que me fatigam demais.

O sol subiu
iluminou tudo ao meu redor,
tudo foi fulminado por poder
menos eu.

Ele subia
enquanto eu descia
cansado de nada, que não tinha nas mãos.
E pintei em pequenos momentos
num olhar muito pequeno
uma vontade tão grande
que era de descansar.

Ele subia
enquanto meus olhos desciam
para o meu céu
escuro, sem luz. Sem ninguém.

Sou o dono da minha fábula
que de nada é iluminada,
sou o dono desta tábua
onde nada, sou eu.

Ponderar

"Este não é recente. foi escrito já a um tempo dentro de uma aula em que não estava presente."

Se ponderas em ponderar,
ponderas se consideras
o que desejas ponderar
importante o suficiente
para ser objecto do
teu indagar.

Em que ponderas?
Teus olhos são
mil enigmas,
teus gestos são
mil puzzles
devidamente espalhados.

Desejas ser um enigma?

Não tenho tempo.
Gosto de Enigmas,
Sem duvida que sempre gostei.
Mas agora estou fatigado
só de tentar resolver aqueles que são meus.

Deixemo-nos de puzzles humanos
plásticos e inúteis.

Deixa-me descansar.
Deixa-me para de ponderar
no que me irá acontecer enquanto a alvorada
se ergue no limiar do mundo,
e eu fujo para o outro limiar.